Um convite à leveza no incentivo ao aleitamento materno

Agosto é o mês dedicado ao incentivo ao aleitamento materno, um período que evoca cuidado, orientação e respeito pela experiência da maternidade. Celebrar esse mês é celebrar o vínculo que se pode criar entre mãe e bebê, mas também é reconhecer que amamentar nem sempre é possível – e que isso não diminui o valor de quem é mãe.

A experiência do aleitamento é vivida não apenas no plano físico, mas no psíquico e simbólico. É um diálogo de almas, onde mãe e bebê, cada um à sua maneira, estão se transformando.

É fundamental reforçar os benefícios do leite materno: o fortalecimento do sistema imunológico do bebê, os nutrientes ideais para seu desenvolvimento e o  seio, nesse sentido, não é só corpo: é imagem simbólica de acolhimento, segurança e início do processo de individuação. Instituições como a OMS e o Ministério da Saúde indicam a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses — e mesmo após, com complementos, até os dois anos ou mais. Esses dados são cruciais para informar com precisão e embasar nossa defesa do aleitamento materno como política pública.

Por outro lado, muitas mulheres enfrentam obstáculos físicos — como baixa produção de leite, dificuldades anatômicas do bebê, dores intensas ou condições médicas — ou emocionais, além daqueles que simplesmente não conseguem amamentar.

A angústia, a frustração e o sentimento de culpa podem se misturar, trazendo grande sofrimento. Algumas lidam com essa impossibilidade carregando uma sensação de inadequação, como se falhassem em uma missão que, muitas vezes, foi romantizada socialmente.

É essencial, então, que este agosto também seja um mês para acolhê-las. O discurso público não pode se resumir à postura de incentivar a amamentação: ele precisa cultivar empatia. Quando não se consegue amamentar, a mulher precisa sentir que não está sozinha. Ouvir que “você é suficiente”, “seu cuidado importa, independentemente do método de nutrição”, são frases carregadas de força. É dentro dessa rede de apoio, com profissionais de saúde atenciosos, grupos de apoio — sejam presenciais ou online — e entes queridos sensíveis, que se constrói a driblagem da culpa.

Os cuidados emocionais necessários não são insignificantes. O apoio psicológico pode ser essencial: acolhimento em consultórios, grupos de mães, espaços terapêuticos que usufruam do compartilhamento de histórias e emoções. Nesse sentido, gestores de saúde e veículos de comunicação têm o papel de garantir que a pauta da amamentação fale também a quem não consegue amamentar, com linhas de apoio e recursos fortemente divulgados.

Além disso, a maternidade real é complexa e plural. Quando a amamentação vira sinônimo único de “boa mãe”, desencadeia uma expectativa excludente. É preciso romper esse mito e reescrever com liberdade o que significa cuidar de um bebê: “dar o peito” é apenas uma das formas, e a escolha — ou a situação — de não amamentar não pode ser visto como abdicação de maternidade. A alimentação do bebê e o vínculo de afeto podem — e devem — ser construídos em respeito ao ritmo real de cada família.

Quando a amamentação não acontece, ou acontece de forma parcial, isso não significa falha. Do ponto de vista psicológico, a nutrição simbólica pode se dar de muitas formas: no olhar, no colo, no toque, na presença. O essencial é que o arquétipo materno se expresse de modo suficientemente bom para que a criança se sinta sustentada e reconhecida.

Vale lembrar que apoio e orientação também são ações políticas. Investir em serviços de acolhimento, formação de profissionais capazes de ouvir sem julgar, ampliar o acesso à leite humano doado, e construir campanhas inclusivas são medidas que estendem dignidade e humanidade.

Neste agosto, que possamos falar do aleitamento materno com carinho e espaço, mas também falar do que não aparece nas fotos felizes: o choro silencioso de quem se culpa por não amamentar, o peso de uma dificuldade mal compreendida, a solidão que atravessa essa experiência. Que sejamos mais suaves na linguagem pública, mais comuns ao reconhecer cada trajetória — e que o calor desse mês sirva para aquecer não só quem amamenta, mas todas as mulheres que cuidam, com seus jeitos diversos, de seus bebês.

Que não apenas este mês, mas todos os outros sejam um convite à leveza: falar do aleitamento com respeito, mas também reconhecer cada jornada materna em sua singularidade, porque ser mãe é muito maior do que alimentar no peito, é nutrir com amor, em todas as suas formas.

* Andresa Squiçato dos Santos é psicóloga na Clínica Psico Benedita Fernandes

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