Cuidados com a autoestima durante o tratamento do câncer de mama

Artigo

Outubro é o mês em que o tema do câncer de mama ganha visibilidade em todo o país, mas para muitas mulheres essa realidade se estende pelos doze meses do ano. Receber o diagnóstico é um momento de grande impacto emocional, capaz de abalar a autoconfiança, os vínculos sociais e até o sentido de continuidade da vida. A partir daí, cada fase do tratamento — cirurgias, quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia — exige não apenas cuidados médicos, mas também um olhar atento para a saúde emocional.

Na psicologia, compreendemos que o corpo e a mente não funcionam separadamente. O adoecimento físico desperta sentimentos de medo, impotência e culpa, que podem fragilizar a autoestima. Para muitas mulheres, a queda de cabelo, a retirada parcial ou total da mama e as mudanças hormonais afetam profundamente a imagem corporal. Como explica a psicóloga norte-americana Susan Folkman, especialista em enfrentamento de doenças crônicas, o modo como interpretamos e reagimos a essas experiências influencia diretamente nossa capacidade de lidar com o tratamento.

O primeiro passo é reconhecer o direito de sentir. Raiva, tristeza e insegurança não são sinais de fraqueza, mas reações humanas diante de uma perda simbólica — a perda da antiga imagem de si. Quando a mulher é acolhida em sua dor, ela consegue ressignificar o processo e encontrar novas formas de se perceber. O apoio psicológico, individual ou em grupo, ajuda nesse caminho. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda que o suporte emocional seja parte integrante do tratamento oncológico, pois contribui para melhor adesão às terapias e para a recuperação da qualidade de vida.

Outro ponto essencial é o autocuidado. Manter uma rotina de sono, alimentação equilibrada e pequenos momentos de prazer tem efeito terapêutico. O autocuidado não deve ser entendido como vaidade, mas como gesto de amor próprio. Pintar as unhas, usar lenços coloridos, cuidar da pele ou simplesmente reservar um tempo para respirar são atitudes que reforçam a sensação de dignidade e controle sobre o próprio corpo.

As relações sociais também exercem papel importante. Familiares e amigos precisam aprender a oferecer apoio sem infantilizar ou vitimizar a paciente. Ouvir mais do que falar, respeitar o tempo da mulher e incentivá-la a manter atividades que lhe deem prazer são gestos que fortalecem a autoestima. Além disso, grupos de apoio e projetos comunitários têm se mostrado eficazes na troca de experiências e na reconstrução da identidade feminina após o tratamento.

Superar o câncer de mama não é apenas vencer uma doença, mas reconstruir-se como sujeito. A psicologia, nesse contexto, atua como ponte entre a dor e o recomeço, ajudando a paciente a redescobrir quem ela é para além do diagnóstico.

Cuidar da mente é parte fundamental do processo de cura. E talvez o maior aprendizado esteja em perceber que a beleza e o valor de uma mulher não estão em seu corpo, mas na força silenciosa que a faz seguir em frente, mesmo quando tudo parece ruir.

*Amanda Giomo Delalata é psicóloga na Clínica Psico Benedita Fernandes

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp